O Museu Em Montagem, Museu Berardo, Centro Cultural de Belém, Lisboa, 2012.




"Geralmente, dentro destas paredes moram esculturas, instalações, pinturas ou cartazes. Mas desta vez a coisa é diferente. Alguém traz um outro tema à baila – ou “o que acontece quando o museu fala sobre si mesmo”. Conhecer os bastidores, no processo de edificação e construção das exposições, é a proposta apresentada por “Museu em Montagem”, que se inaugura hoje e está patente até 24 de Fevereiro do ano que vem. O autor é Rodrigo Bettencourt da Câmara – ninguém melhor que um restaurador para desvendar o que se passa nos entretantos da obra de arte.
Na selecção final contam-se 50 imagens, a maior parte de exposições temporárias e permanentes do Museu Colecção Berardo. As mais antigas são de 2004, data em que Rodrigo decidiu pegar na câmara: “Acompanhei algumas montagens como conservador e restaurador. Acabava por ter algum tempo disponível e comecei a pensar em ter uma actividade artística. Decidi estudar o meu próprio ambiente de trabalho.” Uma viagem ao Japão, pouco depois, acabou por reforçar a ideia. Foi lá que Rodrigo se deparou com um outro mundo de bastidores, que envolvia rituais, com passos bem rigorosos, assemelhando-se a uma “performance”. Fotografar as montagens, tirar-lhes o lado visual, tornou-se o objectivo de Rodrigo. Uma câmara panorâmica de grande ou de médio formato passou a ser a sua fiel companheira.
Escadotes ou andaimes, papéis perdidos no chão e aí também as obras que parecem abandonadas. O público é recebido noutra dimensão, completamente diferente daquela a que está habituado, do “não aproximar, não tocar”. Nesta exposição as pessoas são convidadas a ver o que se passa nos bastidores, antes e depois de as obras serem expostas. Também se encostam a um canto, também são postas sobre o chão de madeira. “Nós, ao contrário do público, temos a ideia de um objecto que não é tão sagrado. São objectos de trabalho”, relembra o artista.
Nas fotografias, qualquer olhar atento pode encontrar uma organização bem particular, quase geométrica. O que leva qualquer um a perguntar-se se este fotógrafo gosta de preparar os seus cenários, ou seja, mover as coisas de sítio. A resposta é não. Ou melhor, é muito raro. “A maior parte das vezes não tenho sequer tempo”, adianta-nos. “Por vezes consigo mudar uma coisa ou outra, mas só para não ficar cortado. Mas 90% das vezes é a imagem encontrada, torna-se uma espécie de jogo.”
“Museu em Montagem” também tem muito de solidão. As imagens paradas estão vazias de gente e quando aparece alguém é quase como se fosse um fantasma. “As pessoas existiram, estiveram lá, mas não conseguimos ter uma ideia nítida de quem foram”, conta-nos Rodrigo, que garante que na sua fotografia a presença humana está subjacente, as “pessoas estão sempre por trás”. No currículo conta com outro trabalho que demonstra esta linha muito peculiar. Registar dedicatórias em livros encontrados em alfarrabistas foi outro dos projectos. Os objectos são os preferidos da lente, mas uma personagem meio anónima, meio real, acaba sempre por ficar a pairar sobre a imagem."



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